Wilson Nogueira*
O ex-prefeito de Parintins Benedito Azedo contou-me que, certa vez, assombrou-se com a revelação de um também ex-prefeito do mesmo município sobre o hábito da leitura. “Benedito, meu caro, faz ao menos dez anos que eu não passo a vista num livro”. Azedo queria engatar uma conversa sobre o tema de um livro que acabara de ler. Ao ver que a prosa não correria nesse rumo, o leitor entusiasmado convidou o seu interlocutor para tomar um cafezinho numa birosca do mercado municipal, que se localiza em frente ao Palácio Cordovil, então sede da prefeitura. “Aceito o convite, meu caro, até porque, desde que assumi, nunca mais pisei no mercado”.
É isso mesmo! O que esperar de um governante que despreza o hábito de ler e de dar uma olhada nos prédios públicos e históricos da cidade que dirige. A distância entre o mercado e o gabinete do prefeito de Parintins, naquela época, não chegava a 100 metros. Azedo explica que de um governante com esse perfil pouco se pode esperar de melhoria nos setores da educação e da cultura. Em Parintins, por sinal, a ferrugem corrói as estruturas do que seria a Casa da Cultura, caso gestores corruptos não houvessem consumido o dinheiro destinado a sua construção. No papel, consta que o prédio até foi inaugurado.
É preciso cuidado para não generalizar, mas é possível afirmar que gestores que não tenham gosto por livros ou por outras manifestações artísticas venham a incentivá-lo por meio de políticas públicas. Será mais provável, no entanto, que as atividades culturais ganhem relevo se o governante entender que elas são tão importantes para ele quanto para os munícipes. Nesse contexto, o espanto de Azedo, que também poderia soar como piadinha de boteco cult, ganha relevância de crítica embasada na realidade, porque poucas prefeituras reconhecem os projetos culturais como meios de inclusão social.
No ranking das bibliotecas públicas do Anuário de Estatísticas Culturais de 2009, documento elaborado pelo Ministério da Cultura, o Amazonas aparece em ultimo lugar entre os demais estados. Apenas 59,68% dos municípios amazonenses têm pelo menos uma unidade em pleno funcionamento. Trata-se de um dado vergonhoso e preocupante, porque, sem biblioteca, sem acesso aos livros, não há como cobrar qualidade no ensino. Daí para frente se repete o circulo vicioso que impede a população pobre, principalmente, de ter cesso ao conhecimento, tão necessário para o presente e para o futuro.
Meu caro Benedito Azedo, ainda bem que, em nível nacional, os números do MinC são mais animadores. Entre 2005 e 2006 aumentou o número de municípios brasileiros que possuem museus (7%), bibliotecas públicas (4,8%) e teatro/salas de espetáculo (1,5%).
*Sociólogo, jornalista e escritor.