Um ano de muitas perdas. Dessas impossíveis de se repor. Assim é, para mim, uma das faces de 2009. A cada dia um passo miúdo para lidar com a não-presença, com a impossibilidade da conversa, do confronto de ideias e do encontro. Uma espécie de estrada longa, sem ter um ponto final. Apenas saudade.
E nessa caminhada algumas revelações sobre a arte na renovação da vida. Tantas crianças chegaram, obrigando-nos a ter novos hábitos, relembrar antigas maneiras, reorganizar espaços e fazer festa para traduzir a alegria de tê-las entre nós.
Essas crianças são como uma corrente, pois com elas chegam mães, tias de fato e aquelas emprestadas, avós… Enfim, elas enredam a vida dos jovens, dos adultos, dos idosos em torno desse começo de existência.
Há, nessa véspera de 2010, um novo significado e muitas razões para celebrar a vida. Sim, tem a saudade doída por aqueles e aquelas que não mais estarão conosco e, nesses momentos, seus rostos e gestos serão recordados. Com uma descoberta: as crianças estão aqui, barulhando em nome da existência.
Criança é símbolo magnífico. Residem nela o significado, o sentido e a abundância de viver, de proteger, de lutar por um mundo onde elas tenham espaço melhor e mais saudável. O caminho percorrido entre perdas abriu trilhas para enxergar tantas criaturinhas reatando elos.
Compreender os movimentos que tecem essa rede é um desafio enorme porque nos exige parar, refletir e tentar ampliar a lente do olhar para além de nós mesmos e da dimensão material da vida.
Nos olhos tão brilhantes dessas crianças – chegadas como um novo presente – tem um universo encantador nos convidando a mergulhar nele e experimentar a alegria de poder superar e comemorar uma outra etapa, de conquistas, de passos miúdos como os das crianças que estão aprendendo a andar, levantar após as quedas e sorrir porque um novo passo está sendo dado.
*Jornalista, professora do Curso de Comunicação Social da Ufam.