Massilon de Medeiros Cursino*
Desde a época de Ropoca, Juliano Santana sempre sonhou em um dia ocupar um cargo público eletivo, para atender os anseios de seu povo, dos mais humildes e daqueles que se sentem excluídos. Juliano cresceu, mostrou seu potencial como humorista, virou “Petro Velho”, se aproximou dos “homens importantes”, sem se afastar dos humildes, e entrou para vida pública como vereador.
Mas não foi assim tão fácil. Petro Velho teve que ser corajoso e carismático numa campanha acirrada de captação e conquista do voto e da confiança do eleitor.
Na eleição de 2008, ao notar que havia muitos candidatos disputando cada palmo de rua na cidade, Petro Velho parte para a zona rural, mas, para sua surpresa, nas comunidades aonde chegava, geralmente já tinha passado alguém com cartazes, santinhos e outras formas de publicidade eleitoral.
Em suas andanças de campanha, certo dia, conheceu um indígena que lhe falou de sua comunidade-aldeia e da necessidade de alguém os representar, a exemplo do que já acontece na vizinha cidade de Barreirinha.
Petro Velho não contou duas vezes e, na primeira oportunidade, zarpou para área indígena, já contabilizando o voto do novo eleitor que o apresentaria a sua família e seu povo. Não titubeou em enfrentar horas de lancha rio acima, mesmo que isso lhe custasse uma monstra dor nas cadeiras, que sua amiga Dra Danielle diagnosticaria como sendo nevralgia, na linguagem médica.
Apresentado ao líder tribal, Petro Velho sentiu que havia descoberto o mapa da mina. –Não seria possível outros candidatos se arriscarem a captar votos em lugar tão distante – Petro Velho ficou “disconformemente” empolgado com os irmãos indígenas que pensou até em mudar de personagem na apresentação de seu boi de preferência. Não queria mais ser Mãe Catirina…
Na viagem de volta a cidade, adornado de adereços típicos, incluindo o anel de tucumã no dedo anelar, Petro Velho trabalhava silenciosamente com a mente, calculando que com quase a totalidade dos votos daquela área, a eleição estava praticamente garantida. Não via a hora de contar para sua esposa e filho, do sucesso da visita.
A empolgação era tanta que ainda voltou duas vezes ao convívio dos amigos e porque não chamá-lo de “correligionários”. Só faltava sacramentar a votação. Nas conversas em grupo, o líder tribal falava na língua mãe. Todos aplaudiam e as índias riam, com as mãos sobre a boca. Katiane, esposa de Petro Velho, já pensava em fazer um trabalho social entre as mulheres e crianças da aldeia…
Abriram-se as urnas e Petro Velho foi eleito. A contagem do TRE foi tão rápida que não deu pra saber de imediato sua votação por secção. Também não precisava, agora era só comemorar no Bar da Chapada. Na hora de agradecer a votação, depois de Deus e de seus pais Balanga e da saudosa dona Silvana, Petro Velho, pela seqüência, manifestou seu penhor a comunidade indígena que lhe abraçou como um filho.
Passada a festança e a emoção de ser o primeiro Vereador eleito pelo PDT em Parintins, dias depois Petro Velho vai ao TRE atrás do Boletim de votação. Fez a triste descoberta de que teve apenas 1 voto na secção em que esperava arrebentar. Ficou ainda sabendo que o voto foi da Professora, que é da cidade. Suas comadres Astrid e Dina ficaram indignadas…
Anos depois, já com o coração contrito, e sem mágoas, Petro Velho volta à área indígena, para a inauguração de uma escola. Os nativos o saúdam e admitem: – Na eleição passada não deu, mas na próxima, pode esperar!
Apesar da promessa dos receptivos indígenas, Petro Velho já confidenciou que não vai investir na área. Segundo ele, o motivo são as longas viagens e as fortes dores em cima da cadeira e da “pente”.
Por isso, quem quiser, que se habilite!
*Economista e escritor.