Ana Celia Ossame*
Depois de 1982, o mês de janeiro nunca mais foi o mesmo. As chuvas, comuns desse período, encharcam a saudade e uma melancolia paira sobre as canções marcadas pela voz e emoção de Elis Regina de Carvalho Costa.
Se Elis nasceu para pássaro, não tenho como afirmar. Sei que seu canto continua vivo nas coletâneas preservadas pelos milhares de fãs que, de quando em quando, deliciam-se com as músicas eternizadas pela cantora. A lista é enorme e ela, que passeou por vários gêneros musicais, cantou a alma dos brasileiros em canções como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Como Nossos Pais” e “Madalena”, para citar algumas canções que depois, cantadas por outras e outros, demonstraram que a interpretação dela foi definitiva.
Nada contra Gal, Bethânia, Marisa… Mas sei que parece repetitivo dizer que raras cantoras conseguiram, como ela, unir técnica e emoção na medida certa para fazer não só produzir faíscas, mas incendiar corações e almas com um canto perfeito e irretocável de letras bem escolhidas. Não é demais afirmar que não houve cantora com a capacidade dela de garimpar, no universo de compositores, tantos talentos autorais formidáveis como Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc e Belchior.
O poetinha Vinícius de Moraes a chamava de “Pimentinha” e a roqueira Rita Lee de “Elis-cóptero” para citar alguns que, tocados pelo brilho da estrela, viram a Elis como um sinal do novo, do raro, do único. Elis estará sempre na memória da música porque, insuperável, deu um tom especial ao que cantava.
Neste janeiro de 2012, três décadas depois de sua partida, inusitada num acidente fatal com a ilusão do ópio, não é demais afirmar que na Música Popular Brasileira (MPB), o título de melhor cantora e intérprete ainda é dela. Quando arrancava lágrimas ao cantar “Atrás da porta” e nos levava ao palco de suas mais profundas emoções assim, no plural, como o seu nome, Elis.
*Ana Celia Ossame é jornalista.