Ivânia Vieira*
Atropelada e em ritmo mais lendo, mesmo assim a mobilização social põe a cara nas ruas, em versões físicas e virtuais, para rejeitar o projeto de recolocação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado.
Nesse movimento, as implicações não estão apenas na folha corrida do senador alagoano – cujo alvará de licença venceu faz tempo se considerada a anticonduta parlamentar dele, mas reabilitado a partir dos jogos locais, autorizando-lhe conquistas de mandatos e reafirmando os nós da rede de poder que o protege para o senador proteger outros. Em questão o Senado brasileiro. Renan Calheiros não é caso isolado naquele grande conselho formado por 81 senhores e senhoras. Ao contrário, Renan é uma tradução vergonhosa da feição maior do Senado, como resultado dos pactos político-partidários nos quais a alternância não conseguiu provocar mudanças para mudar. Somos todos, por correspondência, reféns do “efeito Renan?”
Em torno da eleição do senador há um trançado de partidos famintos pelas melhores fatias na repartição dos cargos da mesa diretora (aliás, o mesmo filme foi exibido por aqui no mês de dezembro). Outros, se autoproclamam libertários, promovendo tentativas de esquecimentos sobre a participação nada republicana em recentes episódios da vida nacional. Seguem cartilhas semelhantes têm fome de poder voraz vestida de autoritarismo e segregacionismo.
A rebeldia do PSOL, as cartas dos senadores Cristovam Buarque e João Capeberibe são fios em busca de aliança com o lado de fora do Senado, reafirmando princípios à espera de recuperação pelos eleitores e pela população. O Senado tem sido pouco incomodado por nós. A eleição para a presidência da Casa legislativa é uma das possibilidades de promover bons incômodos a partir das ruas, ultrapassando os vidros da blindagem.
*Jornalista professora do Curso de Comunicação Social da Ufam.